SINOPSE:
A carta de Pero Vaz de Caminha, roteirizada por Humberto Mauro, com a reconstituição de Pedro Álvares Cabral, da partida do Tejo à realização da primeira missa no Brasil.
CURIOSIDADES:
- Exteriores: Ilha do Governador, praia da Freguesia, Campo Grande (derrubada do jequitibá) e Ilha d'Água.
- O filme, patrocinado pelo Instituto de Cacau da Bahia, estreou no Palácio Teatro do Rio de Janeiro a 6 de dezembro de 1937.
- A 30 de novembro houve uma sessão especial para autoridades e convidados. Uma das características do filme foi a reconstituição, em tamanho natural, com detalhes, da nau capitânia de Cabral, construída diante dos camarins da Cinédia, assim também como as miniaturas, por José Queiroz. Já anteriormente, em "Bonequinha de seda", o mesmo técnico havia feito as miniaturas superpostas no ângulo da câmera.
- Foi exibido em Portugal, merecendo elogios dos jornais O Século e Diário de Notícias.
- Representou o Brasil no Festival de Veneza de 1938.
CRÍTICA by GRACILIANO RAMOS:
A fita que Humberto Mauro nos apresenta agora é uma coisa bem estranha no cinema brasileiro. O governo da Bahia custeou-a, ou pelo menos patrocinou a execução dela - e procedeu com muito acerto. Estávamos acostumados a ver tanta coisa chocha que esse descobrimento do Brasil, realizado sob a orientação de técnicos que dispensam elogios, quase nos assombra. Ordinariamente víamos as películas nacionais por patriotismo. E antes de vê-las, sabíamos perfeitamente que, excetuado o patriotismo que nos animava, tudo se perdia.
Temos enfim um trabalho sério, um trabalho decente: a carta de Pero Vaz reproduzida em figuras, com admiráveis cenas, especialmente as que exibem multidão. Aí estão os fidalgos cobertos de veludo e de seda, a maruja descalça, a nau perdida, a chegada a Santa Cruz, a missa, a dança dos índios, a excelente dança dos índios, com excelente música de Vila Lobos. De atores, apenas Frei Henrique de Coimbra e mais dois frades.
Afirmaram-me que o físico mestre João passou alguns meses habituando-se a coxear. E tanto se habituou que hoje, peixeiro e fora da tela, continua coxeando. Esse mestre João, que vive mexendo no astrolábio e descobre uma vereda nova no céu, é magnífico. Os fidalgos portugueses estão bons, alguns estão muito bons, mas esse mestre João, peixeiro e coxo, é espantoso. Bom como ele só o degredado que fica junto da cruz. E índios muito verdadeiros, muito vivos: o que anuncia a vinda dos marinheiros, os que dançam na praia, os dois encontrados na piroga e levados a Cabral.
É aí que nos aparece um desgosto. Esses dois selvagens são ótimos: ingênuos, confiados, facilmente excitáveis. Perfeitos selvagens. O que nos espanta é o acolhimento que eles tiveram a bordo. Essas coisas estão na carta de Pero Vaz, é claro, mas lá estão contadas simplesmente e agora surgem pormenores que prejudicam a verossimilhança do caso.
Os estrangeiros se extasiam na presença dos hóspedes beiçudos e pintados que jogam fora a comida e cospem a bebida. São uns santos os portugueses, têm uma expressão de beatitude que destoa das façanhas que andaram praticando em Terras de África e de Ásia e por fim neste hemisfério. É o próprio almirante que põe cobertores em cima dos selvagens e lhes arruma travesseiros com uma solicitude, uma delicadeza de mãe carinhosa. Os visitantes praticam numerosos disparates - e os brancos não desmancham um sorriso de condescendência babosa.
Diante do invariável sorriso, chega-nos uma idéia triste. Se os europeus procederam de semelhante modo, foram os maiores canalhas do universo, pois enganaram, adularam torpemente os desgraçados que pouco depois iam exterminar.
Mas a intenção dos criadores da melhor película brasileira não foi denegrir o invasor: foi melhorá-lo, emprestar-lhe qualidades que ele não tinha. Se nos mostrassem apenas ofertas de cascavéis e voltas de contas, muito bem. Mas vemos um sorriso beato nos lábios daqueles terríveis aventureiros, vemos o comandante da expedição, com desvelo excessivo, lançar cobertas sobre os tupinambás e retirar-se nas pontas dos pés, para não acordá-los. Como não é possível admitir que o almirante pretendesse iludir criaturas adormecidas, é razoável supormos que ele tinha um coração de ouro.
Sabemos, porém, que os que vieram depois dele foram muito diferentes.
E lamentamos que nesse trabalho de Mauro, trabalho realizado com tanto saber, se dêem ao público retratos desfigurados dos exploradores que aqui vieram escravizar e assassinar o indígena.
ELENCO:
Álvaro Costa (Pedro Álvares Cabral)
Manoel Rocha (Pero Vaz de Caminha)
Alfredo Silva (Frei Henrique de Coimbra)
De Los Rios (Duarte Pacheco)
Armando Duval (Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias)
Reginaldo Calmon (Índio Aracati)
João de Deus (Ayres Correa
capitão de uma das naus)
João Silva (frade)
Artur Castro (frade)
J. Silveira (Alfredo Cunha
Arthur Oliveira (Pedro Escobar)
Hélio Barrozo Neto (Edgar)
Costa Henrique (marinheiro)
Humberto Mauro
João Mauro
OUTROS CRÉDITOS:
Direção: Humberto Mauro
Roteiro: Humberto Mauro
Argumento: Humberto Mauro e Affonso de Taunay
Assistente de direção: Bandeira Duarte
Diretor de diálogos: Bandeira Duarte
Produção: Alberto Campiglia , Instituto do Cacau da Bahia e Brazília Filme
Música: Heitor Villa-Lobos
Fotografia: Manoel P. Ribeiro, Alberto Botelho, Alberto Campiglia e Humberto Mauro
Desenho de Produção: Bernardino José de Souza e Arnaldo Rosenmayer
Caracterização: Antônio de Assis
NOTAS DO ARQUVO:
Título Original: Descobrimento do Brasil
Gênero: Aventura
Duração: 90 min.
Lançamento (Brasil): 1937
Estúdio: Cinédia
Qualidade: N/A
Formato: Avi
Tamanho: 420 Mb
Áudio: Português
Servidor(4 partes): Rapidshare
Ripagem/Up: Equipe Cinema Cultura
LINKS:
PARTE1 - PARTE2 - PARTE3 - PARTE4
Nenhum comentário:
Postar um comentário